Foi Jorge de Brito o último grande dirigente do Benfica a sair vitorioso das Antas. É verdade que saiu resguardado, numa ambulância, de modo a evitar aquilo que se pode definir, com palavras mansas, como uma espécie rara de furioso mau perder dos donos da casa. Também Carlos Valente, o árbitro do jogo de 28 de Abril de 1991, passou um mau bocado no túnel de acesso às cabinas depois de ter dado por findo o encontro. «Armas, agressões, insultos e confusão » era o título da reportagem do Público no dia seguinte.
O ambiente criado não foi o melhor. Umboato diligentemente posto a correr na véspera do jogo através de uma rádio local da Cidade Invicta fez transbordar de indignação todas as cervejarias e cafés da Invicta: Carlos Valente tinha viajado para o Porto «em animada confraternização com a equipa do Benfica». Gaspar Ramos, à época vicepresidente do Benfica, denunciaria mais tarde «elementos não identificados» de terem agredido o árbitro Carlos Valente, facto que o árbitro não confirmou no relatório do jogo entregue no Conselho de Arbitragem.
Quando a equipa do Benfica chegou ao Estádio das Antas foi obrigada a equipar-se nos corredores, visto que o balneário que lhe era destinado estava «impregnado de um cheiro insuportável». Com o resultado já feito, os jornalistas na tribuna de imprensa foram subitamente alvejados por «cuspidelas, pontas de cigarros, latas de cervejas, insultos e ameaças », como relatava o Público. A emissão do Correio da Manhã- Rádio teve de ser interrompida. «Não tínhamos condições para continuar a trabalhar», explicou o repórter de serviço.
Perante a evidência e a notoriedade dos factos o Ministério da Administração Interna abriu um inquérito «com urgência» para apurar «até às últimas consequências » as responsabilidades pelos acontecimentos da tarde. Quase 15 anos depois, continua-se a aguardar os resultados e as consequências desse mesmo inquérito urgente. Mas por que raio haveria o Ministério da Administração Interna de se interessar por estas loucuras do futebol? Talvez a isso tenha ajudado uma reportagem do semanário Independente, dando conta aos seus leitores e aoministro de que «uma rede unindo polícias e marginais tem sido responsável pelas agressões a intimidações a árbitros, jogadores e dirigentes adversários» do FC Porto.
A verdade é que depois destas cenas exóticas nunca mais o Benfica ganhou ao FC Porto no seu reduto. César Brito, como não podia deixar de ser, voltou esta semana a ser ouvido sobre os dois golos que marcou naquela tarde e que, de acordo com a visão dos donos da casa, deveriam ter sido anulados, no mínimo... por fora-de-jogo. Este ano César Brito está confiante numa vitória do Benfica. Faço o meu papel e digo: eu também. Assim sendo, que Luís Filipe Vieira e Lucílio Baptista saiam pelo seu pé do Estádio do Dragão. E direitinhos.
sábado, outubro 15, 2005
Para pensar I
Jogar no Estádio do Ladrão (prefiro este nome ao oficial pelo que lá costumo ver) é isto, como relembra a Leonor Pinhão:
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