sexta-feira, agosto 19, 2005

Miguel

Esperei até agora para comentar este assunto, porque queria conhecer o seu desfecho antes de emitir juízos de valor. Em particular, estava apreensivo com a estratégia seguida pelo Benfica, não porque considerasse a sua intransigência incorrecta, mas porque as experiências com os orgãos que arbitram este tipo de conflitos (em particular, a CAP) não são as melhores.

Alguns comentadores da nossa praça, criticam este episódio final do comunicado pela humilhação do jogador:
É provável que algumas pessoas vejam no acto do jogador uma vitória do Benfica, sobretudo de Luís Filipe Vieira, o presidente. Exigiu um pedido de desculpas e teve-o (?). E de facto, para quem gosta de humilhar e rebaixar o outro, foi um triunfo. Ouvir a voz trémula e sem convicção do jogador terá constituído um momento de prazer ímpar.

O litígio que agora termina foi um duro teste ao carácter de quem o protagonizou. Um mês e meio depois, ninguém sai dele engrandecido. Pelo contrário.

O «caso Miguel» demonstrou outra vez que os fins não justificam os meios. Mesmo quando, objectivamente, todos ganham dinheiro. Ou talvez justifiquem e o futebol português seja cada vez mais isto: um vácuo moral.
Francamente, quer-me parecer que o comentador quer defender o indefensável. O jogador Miguel renovou contrato com o Benfica, recebeu o novo ordenado sem queixas, não aceitou transferir-se para o Dínamo de Moscovo, rescindiu esse contrato declarando-o nulo, criticou abertamente a direcção do clube, aliou-se a um empresário que, sistematicamente, prejudica o Benfica, tem como advogado um candidato à presidência do clube rival, apresenta uma proposta fantasma de 5 milhões (apesar de ter considerado ser nulo o seu contrato laboral) e acaba por transferir-se por 8 milhões para onde o Benfica quis, na véspera da decisão da Comissão Arbitral Paritária, pede desculpas e 30 segundos depois já diz que não disse. A não ser que este comentador tenha escrito este artigo nesses 30 segundos, parece-me que não está a ver o problema.

É que o problema é que este jogador e a sua corja (empresário e advogado), ridicularizaram e prejudicaram deliberadamente o Benfica, durante este defeso. E as consequências das suas acções só não foram maiores porque não houve medo de os enfrentar. É, se calhar, essa a maior vitória do Benfica neste processo e a grande diferença em relação a outros casos anteriores do mesmo género (por exemplo, Hugo Leal).

E enquanto estes comentadores continuarem a achar que o Benfica fez mal porque "humilhou" o jogador (adoro a utilização da expressão "ser humano" para enfatizar o estatuto de coitadinho), fechando-se os olhos aos contratos, aos compromissos e ao mais básico sentido de honra, só serão parasitas deste mesmo vácuo moral, usando-o e manipulando-o a seu bel prazer.

PS1 - A prestação do comentador benfiquista no programa "O Dia Segunte" foi paupérrima, tendo em conta que tinha ao seu lado um dos autores desta vigarice. Se teve a coragem de estar na mesma sala com tamanho lodo, então devia ter aproveitado a oportunidade para o confrontar, porque conversa de café tenho com os meus amigos, não preciso de ver a dele. Nunca se sabe se, assim, o Benfica não lhe rendia mais uns votos.

PS2 - Uma situação muito mais grave passa-se mais a norte, onde um jogador está a ser chantageado para deixar a selecção nacional. Leio no jornal que já vai no 3º dia sem trabalhar. Mas neste caso, o comentador prefere enaltecer a "frontalidade" do treinador do clube (o tal treinador disciplinador e autoritário que recuou na lista de dispensas) e falar de um "mau acto de gestão, para além de falta de respeito". Um exemplo de eufemismo, para ser usado nas escolas.

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