quinta-feira, setembro 23, 2004

Incendiários

A Superliga começou de forma perfeitamente atípica, se tivermos em conta o passado recente da competição. Surpreendentemente, Porto e Sporting vêm-se com apenas 3 pontos ao final de jogos. Manifestamente pouco para equipas deste calibre.

Provavelmente mais surpreendente é a prestação do Benfica. 3 vitórias, 9 pontos, com exibições de muito trabalho e menos arte, numa prova de uma certa regularidade, mostrando ainda automatismos de Camacho, mas, honra lhe seja feita, uma indisfarçável frieza herdada do seu treinador.

O aspecto que mais me admira, porém, não vem de dentro de campo, mas sim de fora. Folheando os jornais desportivos vemos que, do Benfica, temos muito pouco assunto. Os treinos, os golos, alguma estatística, muito pouco que escrever. Habilmente, o Benfica contornou as milhares de contratações do defeso, as dúvidas sobre Trapattoni (ainda antes da 2ª mão em Bruxelas! Basta lembrar o tema do programa "Opinião Pública" da SIC Notícias, no dia seguinte ao jogo, na Luz, com o Anderlecht: "Trapattoni foi um erro?"), o próprio desaire na Liga dos Campeões, uma 1ª jornada tremida, as declarações fora de tempo e curiosas de Hélder e Abel Xavier, os ataques de Dias da Cunha. Mérito de Veiga e de Vieira ou não, o Benfica tem mostrado uma notável e salutar invulnerabilidade às evidentes tentativas de destabilização.

Neste contexto, têm surgido em todos os jornais desportivos (de papel e também online), insistentes notícias sobre Roger. Roger tornou-se numa magnífica, eficiente e reciclável arma de arremesso que, em tudo, faz lembrar a célebre bala com uma guita atada de Raúl Solnado. Vejamos os factos, Roger já passou mais de 2 épocas na Luz. Já teve diversos treinadores. Já teve diversas oportunidades, inclusivamente, na posição em que diz gostar de jogar. Roger já teve tudo para ter sucesso no Benfica e simplesmente não o teve. Não creio que isso tenha a ver com o seu talento, mas sim com a forma como Roger aborda o jogo. É lento, é desinteressado. Galvaniza a plateia e os jornalistas com mirabolantes proezas com a bola, mas no fim sai muito pouco sumo. Uma comparação com Deco, por exemplo, chega a ser ofensiva para o "português", tal a diferença entre ambos, não do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista táctico, de preenchimento de espaços e de presença no jogo. Não creio, pois, que Roger tenha lugar no Benfica ou em qualquer outro clube europeu com esta atitude e, pelos vistos, não sou o único dado os sucessivos empréstimos ao Fluminense.

Estranho seria, no entanto, se periodicamente lá surgem umas notícias de Roger. Foi o melhor em campo, é o melhor jogador do campeonato, tem uma vida pessoal óptima, quer voltar, não quer voltar, almoçou com amigos do Benfica. A única conclusão lógica é que alguém quer que Roger ande nas bocas do povo. Alguém quer promover o jogador e a sentenciada discussão da sua utilidade no Benfica. E esse alguém será precisamente quem publica estas notícias. Objectivo claro: Fragmentar os adeptos e, principalmente, o balneário que já conhece bem o "menino do Rio".

Do lado do Benfica, exemplar silêncio. Diz o povo que vozes de burro não chegam ao céu. Pena só que Roger seja um activo cada vez mais desvalorizado e que custou 1.6 milhões de contos. Em Janeiro de 2006 será livre para assinar por qualquer clube. Não poderia o Benfica, pelo menos, usá-lo como moeda de troca? É que, assim, Roger é só gasolina nas mãos de incendiários.

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