sexta-feira, setembro 17, 2004

Ou há moralidade ou comem todos

No seu editorial de 7 de Setembro, o prestável Manuel Tavares lembra-nos que a Superliga está viciada. Segundo o editor d'O Jogo, "vender as acções que detém no Estoril seria a melhor forma de José Veiga defender a imagem do Benfica e a transparência da SuperLiga".

José Veiga detém 80% do capital do Estoril-Praia, SAD. Também detém acções da Sport Lisboa e Benfica, Futebol, SAD, ocupando cargo de vulto na estrutura directiva do Benfica. De facto, Manuel Tavares terá alguma razão. Não fica, no mínimo, bem a José Veiga estar a jogar em 2 tabuleiros. Para além disso, é uma falha na sua imagem de dirigente empenhado no Benfica (e todos sabemos a força de um aglomerado de sócios benfiquistas).

Onde Manuel Tavares entra no domínio da patetice pegada é quando diz que esta singularidade afecta a transparência desportiva da Superliga. E a poucos dias de um jogo entre o clube de Manuel Tavares e o Estoril-Praia, este post surge como adequadíssimo.

Escreve, então, o senhor: "No dia em que o Benfica fosse campeão com um ponto de vantagem no final de uma SuperLiga em que, por hipótese, esse ponto a mais resultasse da contabilidade dos jogos com o Estoril, estaria lançada mais uma enorme vaga de suspeição sobre o futebol português. "

<Pausa para voltar à calma depois da gargalhada>

Em primeiro lugar, é extremamente redutor dizer-se que esse ponto resultaria de uma contabilidade dos jogos com o Estoril. A meu ver, até poderia ser já por causa do Braga, que até já fez o Porto perder pontos! Desculpar uma hipotética perca do título com apenas 1 jogo em 34 é surreal e só numa mentalidade pequenina e facciosa é que seria possível.

Depois, denota-se aqui algum temor. Já havíamos salientado que o Porto está a custar a pegar. Mas daí a temer os jogos com o Estoril, meu Deus! Então não é campeão Europeu? Tem obrigação de cilindrar o pobre Estoril-Praia nos 2 jogos. Se calhar, o Del Neri até estava feito com o José Veiga para estragar a equipa do Porto para os jogos com o Estoril. Não sei. Tudo é possível em certas redacções.

Por último, Manuel Tavares faltou ao respeito à equipa técnica e aos jogadores do Estoril, ao acusá-los, implicitamente, de falta de profissionalismo. Não acredito que nenhum jogador a este nível seja capaz de fazer o que este editorial sugere.

O que não vi, ainda, em nenhum artigo de opinião é uma crítica cabal à grande imoralidade das nossas ligas: os empréstimos. Os empréstimos são um dos ases de trunfos do Porto. Com os empréstimos faz-se de tudo. Compram-se jogadores, fazem-se pazes, controlam-se clubes, subidas e descidas de divisão. Poderia contra-argumentar-se a dizer que os jogadores emprestados também são profissionais. E são! Mas nunca jogam contra o clube de origem, o que também me parece uma aberracção.

Eis, pois, uma imoralidade muito maior do que a de José Veiga, o Benfica e o Estoril. Os últimos anos têm mostrado equipas B e C do Porto, como o Varzim, o U.Leiria ou a Académica. A solução para este problema? Simples. Moralidade. Empréstimos, só 3 por equipa, só a equipas de divisões diferentes e 2 delas sendo jogadores sub-23.

Afinal, ou há moralidade ou comem todos.



PS - Jorge Costa não foi convocado para o jogo com o Estoril, supostamente para descansar. Vamos lá ver se o Porto não perde pontos e depois perde o campeonato! Não vou perder a crónica do jogo, n'O Jogo, se houver surpresa!

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