quarta-feira, janeiro 25, 2006

Palavra aos outros...

Leonor Pinhão

Sem dúvida que a nossa mentora voltou ao seu melhor nível.
Para a posteridade, fica esta passagem da sua crónica de opinião n' A Bola de 19-01-2006

Digam lá se não começa bem para terminar em verdadeira apoteose?...


(...)
NÃO é só na qualidade de visitante que o Benfica alimenta o futebol português. É também na qualidade de comprador. Sim, porque o Benfica paga. Vitória de Guimarães e Boavista, nos finais da década de 80 e princípios da década de 90, facturaram milhares e milhares de contos, vendendo jogadores seus ao Benfica. Só por Ademir e por Isaías, o Benfica pagou fortunas, ajudando os clubes vendedores a equilibrar as suas finanças, a construir património e a projectarem-se desportivamente como forças importantes do futebol português. O Benfica pagou em dinheiro Vata ao Varzim, Pacheco ao Portimonense, Hélder ao Estoril, Abel Xavier e Calado ao Estrela da Amadora, Vítor Paneira ao Vizela, Hassan ao Farense, João Pinto e Nuno Gomes ao Boavista, Sérgio Nunes ao União de Leiria, João Tomás à Académica, Dimas, Paulo Bento e Fernando Meira ao Guimarães, Mantorras ao Alverca, Cabral ao Belenenses, Luís Carlos e Nandinho ao Salgueiros, Fernando Aguiar, Cristiano e Beto ao Beira-Mar, Tiago, Quim e Ricardo Rocha ao Sporting de Braga. E tantos outros... E dinheiro é dinheiro, mesmo que em alguns casos o pagamento fosse para o demorado. O Benfica não se aproveitou de rescisões, não fomentou rescisões, não beneficiou miraculosamente de desvios de cartas que nunca chegaram à Liga, não assinou contratos nem compromissos fora dos limites de datas impostos pela lei nacional e internacional, não prometeu favores duvidosos a quem saísse do seu caminho. Só por duas vezes esteve mal, muito mal, o Benfica. Quando desviou Tiago do Marítimo e Paulo Madeira do Belenenses, com truques baixos e lamentáveis, que custaram anos a reparar em termos de um relacionamento profícuo com as direcções do Funchal e do Restelo. A transferência de Manduca para a Luz, a troco de dinheiro, nesta reabertura do mercado, prova que o Benfica soube pedir desculpa ao Marítimo pelo caso Tiago. Em boa hora o fez. Com o Belenenses é também de crer que o entendimento institucional voltou a ser o que era. Na época passada, o Benfica emprestou o sueco Andersson aos azuis do Restelo. Um bom sinal de apaziguamento. Na edição de ontem de A BOLA, o jornalista António Simões assinava uma simpática carta aberta ao presidente do FC Porto. A dada altura, escrevia: «(...) um amigo meu pediu-me que lhe falasse das saudades que sente dos tempos em que você descobria jogadores como desconcertantes minas e armadilhas que abalavam e aniquilavam todos os adversários...(...)» Estamos, pois, no domínio dos princípios. Provavelmente, os adeptos portistas revêem-se nesta política de contratações tão bem descrita por António Simões. Os do Benfica, não.

QUANDO, há duas semanas, o Benfica assegurou a contratação de Moretto e de José Fonte, negociando directamente as verbas envolvidas com o presidente do Vitória de Setúbal, vieram os portistas acusar os da Luz de se terem aproveitado da situação financeira do Bonfim para dar um golpe. A resposta de Chumbita Nunes foi lapidar: — O que é queriam que eles dissessem? Dos lados de Coimbra também ainda ninguém ouviu um responsável da Briosa chamar de trapaceiro o presidente do Benfica, consumada que foi a transferência de Marcel. É essa a questão. O FC Porto é o líder isolado do Campeonato, tem uma boa equipa, um grande treinador, não será fácil ao Benfica desalojar o vice-campeão da época passada da posição que ocupa na corrente temporada. Também é verdade que, no plano aritmético, já foi mais difícil... Mas fora do plano desportivo, nas últimas semanas, o Benfica deu baile ao FC Porto em matéria de contratações. Não porque tenha assegurado os serviços de cinco Eusébios, mas porque deu provas de eficácia. Ou melhor, de competência, de capacidade de perseguir um objectivo e de derrotar a concorrência sobre a meta. Normalmente, como aconteceu nas últimas duas décadas, os jornais teriam enchido primeiras páginas durante semanas com os jogadores que «interessavam» ao Benfica para, no final, serem apresentados no Estádio do Dragão, ao lado de Reinaldo Teles. Pinto da Costa, esse, nem se daria ao incómodo de aparecer. Passaria de raspão, a caminho de «uma importante reunião com investidores internacionais», cruzando-se com os jornalistas à saída, para, «com a ironia do costume », deixar escapar qualquer coisa como: «O Moretto já assinou? Julgava que ia para o Benfica... » Este ano não foi assim. Aparentemente, incapaz de bater o Benfica, vingou-se no Sporting, contratando Adriano, um proclamado interesse dos leões. E no que diz respeito à ironia do costume, vimo-lo apenas a assobiar, o que é pouco. Cada vez me convenço mais de que o black out interno decretado pelo FC Porto visa apenas um propósito: calar Co Adriaanse. O comentário do holandês, no final do jogo da Reboleira – «... mau, mau, era termos levado 5...» – por ter sido tão curto e tão pragmático não é passível de se ter perdido na tradução.



Sobre os infelizes vizinhos da 2ª circular o Ry já disse tudo. Dementes...

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