sexta-feira, abril 15, 2005

Leonor Pinhão II

A clareza e acutilância desta senhora não cessam de me surpreender.

Sobre o Apito Dourado:

«Posta emcausa a validade jurídica das escutas telefónicas no processo do Apito Dourado.»
(da generalidade da imprensa, dias 6, 7 e 8 de Abril)

É extraordinário, não é? Saem para a imprensa relatos de transcrições de escutas do processo do Apito Dourado, cujos conteúdos vêm dar razão a tudo o que se suspeitava ser a relação promíscua entre a noite, o bas-fond portuense e o futebol, com pormenores capitosos de códigos de uma brejeirice quase adolescente e superiormente convencida da sua impunidade e eis que o centro da discussão passa a ser as questões da «tecnicalidade » das ditas escutas, do ponto de vista jurídico, filosófico, semiótico, metafísico, teológico e gramatical.

Dos escutados, com os nomes todos postos a claro, ninguém veio dizer: «É mentira!» Ou que aquela voz não era a sua mas, sim, a de um imitador profissional, apostado em denegrir a sua personalidade e em desestabilizar o grupo de trabalho que, a partir de agora, está mais unido do que nunca. Não, os escutados e os transcritos remeteram-se ao silêncio. A ver se passa. Confiantes na docilidade da imprensa e dos técnicos de «tecnicalidades», furiosamente à procura de quiproquós jurídicos para «invalidar» as escutas. Não é que as conversas não tenham existido, ninguém as desmentiu, não é que as situações não tenham ocorrido, que não tenha havido beneficiados por métodos à margem da lei.

Tudo isso, comprovadamente, levou o Ministério Público a agir e a transformar em arguidos personagens incontornáveis (pudera...) que dominaram o futebol português nos últimos e largos anos.

Mas o que é importante é que as escutas não são válidas do ponto de vista técnico. Por uma série alterosa de razões. Tais como:

   a) As folhas com as transcrições estavam mal agrafadas.
   b) A juíza assinou o despacho com caneta preta quando o deveria ter feito com caneta azul.
   c) As cassetes foram compradas numa loja chinesa e não tinham selo de importação.

Conclusão: as escutas é que são uma vigarice!


Sobre o presidente do Sporting:

«O que me apetece perguntar é até quando é que o escândalo da arbitragem vai continuar? Isto não pode continuar assim. São interesses importantíssimos do clube que permanentemente são postos em causa!»
(Dias da Cunha, presidente do Sporting, 10 de Abril)
AINDA estas extraordinárias palavras do presidente do Sporting não tinham cessado de ecoar contra os azulejos do seu estádio novo e já a equipa de arbitragem liderada por Elmano Santos respondia a preceito ao desabafo de Dias da Cunha. Corriam 32 minutos do jogo com o Beira-Mar quando McPhee, de amarelo vestido, fez com uma cabeçada a bola descrever um arco caprichoso sobre Ricardo e entrar na baliza à sua guarda. Golo lindo, limpíssimo, culminando uma fase do jogo em que o Beira-Mar causava perigo e não deixava o Sporting mandar em nada.

0-1? Qual quê... nem pensar. 0-0, o jogo continuou empatado porque foi assinalado um fora-de jogo inexistente ao avançado aveirense. Bem, aveirense, aveirense de gema... não garanto, com o nome que tem, McPhee até é mais capaz de ser inglês ou australiano, mas lá que foi golo e limpo, não há a mais pequena das dúvidas.

«São interesses importantíssimos do clube permanentemente postos em causa!», dizia Dias da Cunha antes do jogo. Depois do jogo não disse nada e fez muito bem. Se calhar, por respeito ao Beira-Mar que está ser levado ao colo até à II Divisão.

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