segunda-feira, dezembro 27, 2004

Não se Liga ao futebol!

No seu Bilhete, no MaisFutebol, Luís Sobral fala de uma certa passividade, lentidão e mão branda da Comissão Disciplinar da Liga, em casos recentes:


Comissão Disciplinar: atirar baldes a árbitros sai barato
[ 2004/12/15 | 12:43 ] Luís Sobral

A Superliga está em roda livre.

O presidente da Liga encontra-se impedido de exercer funções, no âmbito de um processo de corrupção desportiva.

A Liga está desde Abril com um presidente interino, o director executivo Cunha Leal, naturalmente sem a força que deveria ter.

O presidente do F.C. Porto é arguido no processo «Apito dourado».

O presidente do Sporting diz que a investigação judicial em curso é coisa pouca e abre uma nova frente, o dinheiro sujo das transferências.

O presidente do Benfica acusa toda a gente de cobardia, mas à excepção de um «DVD voador» e da mais triste conferência de imprensa do futebol português recente, desconhece-se qualquer ideia construtiva.

Há árbitros e auxiliares impedidos de exercer a sua actividade, também arguidos no processo de corrupção desportiva.

No meio de tudo isto, exigia-se que pelo menos a Comissão Disciplinar da Liga desse alguns sinais de empenho e procurasse ser exemplar.

No entanto, é exactamente o contrário que se verifica.

Esta terça-feira ficámos a saber que finalmente, dois meses depois (!), haverá um inquérito ao caso dos bilhetes no Benfica-F.C. Porto. Recorde-se que esse tema valeu uma semana de tensão e contribuiu para instalar um clima de guerra no jogo mais importante da Superliga até ao momento.

A mesma CD decidiu punir com 3500 euros o Penafiel e abrir um inquérito ao presidente do clube, António Oliveira.

A multa até parece elevada, mas se virmos as imagens percebemos que é profundamente inadequada ao que de facto se passou. Um auxiliar foi alvejado com uma garrafa e um balde. O jogo esteve interrompido dez minutos.

Na prática, é como se nada se tivesse passado. O clube pagará a multa e na próxima jornada lá estarão os mesmos adeptos, incapazes de um comportamento cívico e desportivo, a tentar pressionar a equipa de arbitragem. Recorrendo para isso a todos os meios.

Resta apenas uma dúvida: se da próxima vez o balde acertar na cabeça do árbitro qual será a multa? Aposto em 4500 euros...


Em primeiro lugar, tenho estranhado que estas pequenas crónicas de Luís Sobral apareceçam cada vez mais escondidas no site. Nem a uma referência na página inicial têm direito, o que é, no mínimo, bizarro, sendo Luís Sobral o director da publicação.

Voltando ao essencial, este reparo à Comissão Disciplinar só peca por tardio. Desde que o futebol profissional passou a ser tutelado e organizado pela Liga de Clubes que se tem assistido a decisões perfeitamente bizarras, de ambas as Comissões (Disciplinar e Arbitral). Castigos que já não são castigos, processos arquivados com provas mais do que evidentes, jogadores castigados 2 meses depois da infracção em véspera de jogo importante (sim, estou a falar de Jardel num Sporting-Benfica) são apenas as asneiras mais sonantes.

Mas, quanto a mim, o que mais me choca é a incapacidade da Liga exercer a disciplina sem contemplações, protegendo sobretudo o espectador e o intérprete do futebol espectáculo. Vejamos:

Manuel Fernandes rasteirou um adversário por trás, sem bola. É expulso e castigado com 2 jogos. Benny McCarthy deu 2 socos a um adversário. É expulso e castigado com 2 jogos. Qual é a diferença entre estes 2 lances para lá da cor da camisola? Será difícil perceber quem deveria ter tido um castigo de 5 ou 6 jogos? Este tipo de atitudes pedagógicas só iriam proteger o nosso já débil futebol, afastando cada vez mais os jogadores violentos e sarrafeiros. Há falta de coragem.

António Oliveira é presidente do Penafiel e agora dono de 10% da SAD do FCP. Em primeiro lugar, ainda não ouvi ninguém d'O Jogo a referir que esta situação é imoral, como ouvi acerca de José Veiga e referi aqui no blog. Atira baldes e garrafas ao árbitro, incita à violência, é multado em 3500 euros. Até o pobre Avelino Ferreira Torres já deve estar a pensar comprar acções do FCP para que o Marco não seja castigado na sua próxima explosão. Aparentemente, o investimento em títulos compensa, mesmo quando a economia aperta! Melhor: Miguel e Nuno Gomes aparecem no balneário do Benfica-Estoril, sem estarem sequer na ficha de jogo, e são alvo de processos disciplinares da Liga, graças ao inefável Delegado que não perdeu tempo a anotar as gravíssimas infracções dos cidadãos (porque naquele jogo não eram jogadores)! Se eu lá estivesse, também seria?

Luís Fabiano foi inscrito já com o campeonato a decorrer. O FCP adiou o seu jogo com o U.Leiria, que deveria ter sido disputado ainda sem Luís Fabiano. Claro que a Liga baralhou todos os regulamentos e voltou a dar, perdendo-se em precisosismos da linguagem dos regulamentos para explicar o inexplicável e abrir este espantoso precedente. Mais uma vez, falta de coragem.

Jorge Costa, em Guimarães, atropelou o fiscal de linha (e não me digam que foi sem querer!). Ninguém falou, ninguém viu, ninguém se queixou. Na Premier League, tocar no árbitro dá castigo, quanto mais intimidá-lo e agredi-lo fisicamente. Falta de coragem.

O Sporting acaba de antecipar o seu jogo para a Taça de Portugal para limpar o cartão de Liedson. Embora os pobres regulamentos o permitam (se calhar mais pelo seu vazio do que pelo texto propriamente dito), isto é incrivelmente promíscuo, anti-desportivo e vergonhoso. A Liga não se pronunciou, a Federação também não. É tempo de acabar com a troca de castigos entre provas. Ou então, punir de forma mais severa um jogador que tenta ser admoestado.

O Benfica vai ser alvo de processo disciplinar por causa dos bilhetes do Benfica-FCP. Era assumido pela Direcção que tal ia acontecer. Mas continuo a não ver regulamentação no sentido de baixar os preços dos bilhetes para mpedir que se paguem mais de 50 euros por um jogo num campo sem condições, entre uma equipa que só defende e outra que tenta fazer pela vida. Isto acontece em todos os jogos fora do Benfica. Também não há Liga para isto.

Quanto a adeptos, já nem vale a pena falar. Onde há azul e branco, há confusão. Na Luz, em Alvalade, em Guimarães, no Bessa, em qualquer lado. E se não fosse A Bola pouco saberíamos das perseguições automobilísticas que os Super-Escarretas fazem à sua equipa quando há derrotas. E nem quero começar a pensar nas facadas em Alvalade ou nas pilhagens das Auto-Estradas. Ou serão só os desordeiros da Luz que atiram pedras?

O futebol profissional é uma realidade. A regulamentação, gestão e organização profissional são uma miragem. E quem é que ganha com isso?

1 comentário:

Anónimo disse...

Faltou-te apenas referir os preços fabulosos aplicados no VSC-SCP. Curiosa tabela em vigor na Liga de Clubes.

- Filipe Toscano