sábado, janeiro 22, 2005

Se um manifesto incomoda muita gente...

A simples leitura do manifesto regenerador criado pelos presidentes de Benfica, Sporting, Marítimo e Belenenses fez o edifício futebolístico tremer.

Primeiro, Mano Nunes disse que não era traidor (não sei a que causa). Depois, na comunicação social assistiu-se à sua divisão entre os que se mostram a favor desta tentativa de regeneração e os que a ela se opõem. Curiosamente, esta oposição esbarra sempre no mesmo argumento, triste, medíocre e revelador de uma mentalidade mesquinha de não olhar a meios, aliás, aquela que rege o fenómeno futebolístico em quase todos os aspectos. Por exemplo, António Varela, no Record:

Regeneração

A iniciativa dos presidentes Dias da Cunha, Luís Filipe Vieira e Carlos Pereira, apesar da agenda do costume (arbitragem, transparência nas contas e justiça desportiva), tem um propósito, aparentemente, inconfessável: isolar o FC Porto.

Depois de duas épocas brilhantes do ponto de vista desportivo, os dragões entraram num processo de autodestruição muito estranho que parece não incomodar sequer o próprio presidente e que os deixa numa posição de inegável fragilidade. O "timing" dos regeneradores não é, pois, inocente.

É óbvio que Dias da Cunha não se atreveria a avançar à revelia do FC Porto, se este liderasse a SuperLiga tranquilamente, com dez pontos de avanço, fê-lo agora porque os dragões têm muito trabalho de casa por fazer e um presidente arguido, apesar do crédito que lhe deve ser atribuído por ter rebocado o Benfica e, mais do que este, os tradicionais aliados de Pinto da Costa, Carlos Pereira e Sequeira Nunes. Vamos ver o quanto resiste este impulso ao trabalho de bastidores dos dragões.


Este artigo de opinião é, em si, a mentalidade que urge mudar. Isto, sob pena de esquecermos os valores que deveriam ser reger a competição: transparência, seriedade, justiça. Parece-me absolutamente errado que se dê mais atenção às movimentações políticas em torno do manifesto do que ao manifesto em si. Como se o processo de autodestruição do FCP (evidente!) e a liga 2004/05 fosse mais importante do que a verdade dos factos, a justiça e o cumprimento da Lei. Ano a ano, liga a liga, tem sido este o pensamento que transformou o futebol no que é: um negócio sujo, de um espectáculo para o qual quase ninguém paciência (veja-se as assistências médias), saboroso apenas para aqueles que, cegamente, lá vêm a sua equipa ganhar com arbitragens e decisões tantas vezes ridículas.

Renovar, regenerar é preciso e julgo que este é um passo em frente, nesse sentido. Merece melhor sorte do que ser comparado a manobras de bastidores, castigos que ficam por dar, penalties por marcar, negócios estranhos de jogadores e gritantes faltas de verdade desportiva que se vêem todos os domingos. Quem não vê isto é porque não quer ver. E quem não quer ver, sabe-se de que lado da barricada está.

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